Anvisa autoriza uso da CoronaVac em crianças de 3 a 5 anos
A reunião extraordinária da diretoria colegiada da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) autorizou nesta quarta-feira o uso emergencial da vacina Coronavac contra a Covid-19 para crianças de 3 a 5 anos. A agência levou em consideração que os imunizantes de vírus desativado é usada continuamente no Brasil, como são os casos das vacina contra a gripe e a poliomielite.
"A tecnologia de vírus inativado tem um longo histórico de segurança em vacinas comumente aplicadas em bebês e crianças, assim, apesar das incerteza quanto a eficácia da Coronavac para evitar que as crianças contraiam a doença, é possível que a Coronavac seja considerada como estratégia para reduzir os danos da Covid-19", afirmou Meiruze Sousa Freitas, diretora-relatora da Anvisa.
Os diretores também salientaram que o aumento do número de casos e de mortes por Covid-19 no Brasil e o surgimento de novas variantes capazes de ultrapassar a imunidade colocada pela doença foram essenciais para optar pela aprovação do produto fabricado no Butantan. O esquema vacinal indicado pela área técnica da agência é de duas doses com intervalo de 28 dias e não é recomendável o uso em crianças imunocomprometidas, que são aquelas com deficiência no sistema imune. O produto é o mesmo usado em adultos e os fracos seguem iguais.
Os diretores da Anvisa aprovaram a utilização, mas ressaltaram que a vacina deve seguir sendo objeto de estudo e monitoramento de vida real para verificar a eficácia e a efetividade da resposta imune da Coronavac à variante Ômicron e possíveis novas variantes do SARS-CoV-2.
Além de que a imunidade celular - resposta imunológica que não envolve anticorpos - produzida pelo imunizante precisa continuar como alvo dos estudos e avaliação do Instituto Butantan. Até então, o imunizante produzido no Instituto Butantan estava liberado no Brasil para crianças, adolescentes e adultos a partir de 6 anos. Em janeiro desse ano, a agência chegou a negar o pedido de uso para a faixa etária de 3 a 5 anos por falta de dados.
Para aprovação, os especialistas da agência reguladora receberam dados de três estudos feitos no Brasil: Curumim, feito no Espírito Santos; Immunita, do Instituto Butantan com a Fiocruz (Fundação Oswaldo Crus); e Vigvac, também da Fiocruz.
Além disso, foi usado estudo de efetividade da Coronavac desenvolvido no Chile feito com 500 mil crianças, já convivendo com a alta circulação da variante Ômicron. Nele foi demonstrado uma proteção de 55,06% de efetividade na prevenção de hospitalização de crianças. Foram observadas apenas duas mortes, no grupo de crianças não-vacinadas.
A Anvisa consultou também a SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), SBPT (Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia), e ABRASCO (Associação Brasileira de Saúde Coletiva).
Mesmo sendo uma doença menos grave nessa faixa etária, os médicos ressaltam que os números da Covid-19 são relevantes. "Esse é um grupo no país de importante carga da doença, que está longe de ser negligenciável no grupo etário pediátrico. O risco de hospitalização e morte [da Covid] é comparável nas crianças ou na maioria das vezes, até mesmo maior do que o risco de diversas outras doenças infecciosas e que hoje são alvo de programas de prevenção através de vacinas no nosso país", afirmou Marco Aurélio Sáfadi, infectologista e diretor do Departamento de Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
No fim do mês passado, foi divulgado um estudo feito pelo Icict (Observa Infância, projeto ligado ao Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde) da Fiocruz, mostrando que em média duas crianças com menos de 5 anos morreram a cada dia no Brasil vítimas de Covid-19, desde março de 2020.
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